Quando eu comecei a usar internet, a
imprensa especializada escrevia esse troço com I capitalizado, para você ver a distância que as pessoas ainda tinham da rede. Eu baixei minha primeira música na casa de um tio, com internet discada, na época em que as pessoas sabiam a marca do modem que usavam - o dele era Creative, hoje tem muito moleque que nem sabe o que é modem. Eu lembro claramente de ouvir meu amigo falando: esse arquivo aí é o mp3, é o arquivo do Winamp. Tinha lá, sua razão, afinal o Winamp foi meu único player por mais de 5 anos e o de muita gente, sem concorrentes. E eu ainda lembro como todo mundo se achava hacker porque tinha uma versão pirata do Windows 95, gravada em 13 disquetes.
E daí? Poxa, eu estou querendo provar que eu vi essa criança nascer. Essa criança chamada “fim da autoria”.
Não vou ficar aqui contando a história da pirataria,
Napster, não, não é nada disso. A pirataria está aí, convivendo diariamente em nossas casas, nem que seja numa versãozinha inofensiva de um Winzip crackeado por um sobrinho. O que eu tenho achado interessante é o sumiço silencioso do copyright, do uso do direito da imagem e da autoria.
Há pouco mais de 3 meses um designer de João Pessoa foi esquartejado em praça pública por ter copiado uma ilustração de um carinha que postou alguns trabalhos no Flickr. Eu, maldosamente, cheguei a escrever um qualquer comentário medíocre ajudando a enterrar o cara, afinal, eu sou um dos caras que faz, do zero, sozinho, com a minha inspiração! Aí bateu aquela dor de barriga na consciência e eu apaguei o comentário, mas não antes do autor do blog ler o que eu havia escrito e respondido: é isso aí, eu quero é samplear! Cara, e não é que aquilo ficou martelando na minha caixola!
Desde que o mundo é mundo, tem tiozinho copiando o cara ao lado. O
Oliviero Toscani e suas
colors não passam de uma releitura do que a
Avant Garde e já havia feito faz é tempo; a Legião Urbana queria ser Joy Division desde criança; o
Rod Stewart copiou Jorge Ben e o Tim Maia sampleou o James Brown; até o iPod, que eu achava a nova invenção da roda, é - até onde se sabe - produto de uma espécie de
espionagem industrial. E eu tenho lá minhas dúvidas se apenas um pobre coitado lá na Grécia antiga é quem ralou um bocado para criar tudo que a gente vem copiando até hoje.
Afinal, um layout, um acorde, uma estrofe, um desenho: tudo é fruto na nossa cultura, nas nossas referências. Pensando mais uns 2 minutos eu me senti o maior babaca do mundo em ter feito aquele comentário no blog do sujeito. Aí caiu a ficha.
Não demora e a evolução dos blogs, das iniciativas de produção de conteúdo por pessoas normais, das ondas de contra-informação lideradas pelos
Luther Blisset da vida vão acabar criando e consolidando por muito tempo uma cultura de antropofagia-digital. Algo como você, não tendo lá muita privacidade por culta dos seus aparelhos ultra-conectados às redes, claro, sempre vulneráveis, chegando ao ponto de virar uma nova personalidade na internet com algum joguinho escroto que um moleque das Filipinas fez com uma foto que você tirou de si mesmo, cagando, lendo seu jornal antes de ir ao trabalho.
Aí, pode apostar que a já falida indústria fonográfica vai ter companhia no fundo do poço, com suas amigas indústrias literária, cinematográfica, televisiva e de imprensa. Não esqueçam da maior potência emergente do mundo, a China, e seu exército de clonadores, prontos para trabalhar 2 séculos ininterruptos.
Alguém vai ter que inventar um jeito novo de ganhar uns trocados.
Eu não sei ao certo de onde tirei tudo isso. Mas eu aposto uma cópia do Windows 95 que cedo ou não tão tarde, você acaba me dando razão.